domingo, março 18, 2007

e porque hoje é domingo

Poema destinado a haver domingo

Bastam-me as cinco pontas de uma estrela
E a cor dum navio em movimento
E como ave, ficar parada a vê-la
E como flor, qualquer odor no vento.

Basta-me a lua ter aqui deixado
Um luminoso fio de cabelo
Para levar o céu todo enrolado
Na discreta ambição do meu novelo.

Só há espigas a crescer comigo
Numa seara para passear a pé
Esta distância achada pelo trigo
Que me dá só o pão daquilo que é.

Deixem ao dia a cama de um domingo
Para deitar um lírio que lhe sobre.
E a tarde cor-de-rosa de um flamingo
Seja o tecto da casa que me cobre

Baste o que o tempo traz na sua anilha
Como uma rosa traz Abril no seio.
E que o mar dê o fruto duma ilha
Onde o Amor por fim tenha recreio.



Natália Correia
Poesia Completa
Publicações Dom Quixote
1999

6 comentários:

Fatyly disse...

Um grande poema!

Beijocas

Bartolomeu disse...

É verdade, excelente poema... tens muito bom gosto Psique.

Um dia, só pela vontade de ser
o sonhador soltará a fantasia.
Reinventa o olhar e todo o ver
e torna-se o poeta e a poesia

psique disse...

uma grande mulher Fatyly...

Bartolomeu tomara eu, conseguir rimar como tu versas... explica-me o pacto.

Bartolomeu disse...

"Pactos nus" é um termo em latim, que designa o estabelecimento de um acordo não escrito.
hehehehe
então o pacto que eu proponho, para começo de uma amizade, e uma vez que ambos galanteamos a rima e o verso de cada um, é a obrigatoriedade de nos lisonjearmos, rimando e se possível versando.
Hum?
Quéquedizes?
hehehehe

psique disse...

digo que sim Bartolomeu...

psique disse...
Este comentário foi removido pelo autor.