A visita

“Entra... empurra a porta
Esta só encostada”
Ouvi estas palavras vezes sem conta, nas visitas que te fazia...
Estavas na cama deitada e a tua companhia era um gato velho e felpudo com os olhos brilhantes e um ar pachorrento de quem não tem pressa , de quem a vida vai passando e as horas não o incomodam...

Nas tardes em que te visito, olho a tua mesa de cabeceira cheia de livros e de cada vez que entro pegas num e ofereces-me ... desta vez foi o um pequeno livro de poesia ...recordas-me a importância de ler e de escrever... criticas a minha falta de pontuação e eu vou me desculpando com a pressa de escrever ... ris-te e tosses... refilo contigo para que não te esforces ....
Das–me a mão e dizes-me “és feliz?” digo-te que sim mas que poderia ser mais se te cuidasses...sorris e dizes –me estou cansada ... percebo a deixa e saio...
Digo-te da porta -Volto amanhã...
Já não me ouves ... dormes olho-te mais uma vez e saio...

O sol brilha aproveito e vou até a livraria e compro um livro penso se o aprovarias ou não... Talvez não...
Sento-me no Jardim em frente a porta e começo a lê-lo , sorrio e digo para mim mesma ela nunca o aprovaria... levanto-me e vou me embora...